quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Porto Alegre do futuro?



Maria Inês Reinert Azambuja (*)
A ZH do dia 25/1/2011 traz uma evidência importante sobre porque o Rio Grande do Sul, e especialmente Porto Alegre, andam para trás: lê-se que, após meses de discussão, as novas estações de ônibus deverão permanecer no mesmo nível…. não porque esta seja a melhor solução para o problema, mas porque é a mais barata e menos afetará o transito no curto prazo.
Mas é assim que se constrói a Porto Alegre do futuro? Não deveríamos aproveitar a oportunidade e os grandes investimentos para exercer a criatividade, incentivar a discussão pública e chegar às soluções tecnologicas que melhor atendam às necessidades da população nas próximas décadas?
A mesma lógica de oferecer mais do mesmo – independente das lições da história – tem (des)orientado outras decisões com impacto importante no futuro da cidade. Uma delas é a de concentrar as habitações de baixa renda nas periferias. Só para a Restinga devem ser deslocadas 50 mil pessoas com renda familiar de até 6 salários mínimos. E a infraestrutura, o transporte, o acesso ao trabalho? Meio século depois, estamos criando as nossas “Cidade de Deus”!… A França, que fez algo semelhante no pós-guerra, gasta hoje uma fortuna para re-integrar aquelas comunidades segregadas aos núcleos urbanos. Os Estados Unidos experimentaram tamanha violência concentrada em alguns destes nucleos que foram obrigados a impodí-lo anos depois.
E o planejamento para o quarto distrito, qual foi? Por que não uma solução semelhante a de Barcelona, onde quarteirões cheios de galpões fabris decadentes ou abandonados, no que foi uma vez seu distrito industrial, serão no que for possível preservados, reformados e ocupados por empresas e escolas de tecnologia e de mídia? (Folha de São Paulo, 23/1/2011). Não temos outras necessidades além de shopping centers e edifícios de classe média alta? Como médica posso rapidamente pensar em algumas coisas como novos hospitais, centros de pesquisa, centros de desenvolvimento de biotecnologia e de tecnologia da infomação aplicada à saúde, centros de convenções, escolas tecnicas, tecnológicas e universidades… Muitas outras possibilidades que levem em conta o potencial da cidade para investimentos economicos qualificados certamente existem e deveriam ser exploradas…
O tempo dos políticos, com eleições a cada 2-4 anos, os financiamentos para campanhas e a falta de democracia e transparência das discussões que envolvem os destinos das comunidades está comprometendo o nosso futuro.
(*) Prof. Adjunta do Departamento de Medicina Social,FAMED/UFRGS. Coordenadora do Programa de Extensão em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades.

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