sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Rio+20 que não queremos

Fonte: Vitae Civilis

turma
Da esquerda para a direita: Ricardo Young, Pedro Telles (Vitae Civilis), Luis Flores (Consumers International), Svern Suzuki, Wael Hmaidan (Climate Action Network), Rubens Born (Vitae Civilis), Sharan Burrow (ITUC), Kumi Naidoo (Greenpeace) e Camilla Toulmin (IIED)
Ambientalistas, ativistas e cientistas protocolam carta aos chefes de Estado em que manifestam decepção com o resultado das negociações
Um grupo de indivíduos com atuação destacada no campo do desenvolvimento sustentável protocolou nesta quinta-feira (21), na cúpula de alto nível da Rio+20, uma carta de repúdio à versão atual da declaração “O Futuro que Queremos”. O texto, negociado por diplomatas na fase preparatória, deve ser aprovado pelos Chefes de Estado e de Governo sem maiores modificações.
Entre as personalidades que subscrevem a carta estão o cientista americano Thomas Lovejoy, que introduziu o conceito de “diversidade biológica” no mundo acadêmico, os ex-ministros brasileiros Marina Silva e José Goldemberg, o ambientalista Fabien Cousteau, o cacique Raoni Metuktire e a ativista canadense Severn Suzuki, conhecida pelo discurso na conferência Rio-92 quando tinha apenas 12 anos.
Para os signatários, a declaração atual é fraca, está “muito aquém da importância e da urgência dos temas abordados” e “não assegura resultados concretos”.
Veja o que disseram alguns representantes do grupo, em evento de divulgação no Riocentro, e, logo abaixo, a carta na íntegra com a lista atualizada de assinaturas até a noite de quinta-feira.
Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional: “Infelizmente a Rio+20 está se tornando a ‘Riomenos20’. Claramente este documento carece de ambição, de visão e é uma demonstração da inabilidade dos negociadores e governos de irem além das agendas nacionais e de seus próprios interesses”.
Sharan Burrow, secretária-geral da International Trade Union Confederation: “A falta de coragem dos chefes deEstado que chegaram aqui e concordaram com um texto fechado sobre o qual não discutiram uma linha é um choque para nós. Vir até aqui para não fazer nada é um enorme desperdício. Palavras não são suficientes. Um processo sem metas, datas e inclusão da sociedade é inadmissível”.
Severn Suzuki, ativista canadense: “Vinte anos atrás eu estive aqui neste mesmo lugar. Estive aqui porque acreditei que estaria falando com lideres que podiam mudar o mundo. Passei os últimos 20 anos trabalhando de boa fé. E agora volto ao Riocentro. Todo mundo sabe: nós falhamos no esforço de conseguir uma transformação sustentável. Mas podemos reconhecer que é um momento histórico. O que significa quando lideres mundiais se juntam e não podem trabalhar para o bem da humanidade? Membros da imprensa e da sociedade aqui presente: vamos devolver ao resto do mundo uma mensagem de que nós temos uma falha em nosso sistema de governança mundial. Não sou mais jovem, mas sou mãe como muitas de vocês e como vocês eu farei qualquer coisa para que meus filhos tenham o futuro que eles querem”.
Camilla Toulmin, economista e diretora do IIED: “É alarmante encontrarmos um documento sem metas, sem ação, sem datas. Nenhuma menção a um planeta que tem limites e que temos de encontrar maneiras de compartilhar esses recursos. Fico imaginando de que planeta esses negociadores vem. Eles parecem estar em outra realidade. Temos um grande desafio pela frente com cidades, água, energia. Mas todas essas discussões foram postergadas para outro momento”.
Luís Flores, Consumers International – “Este documento foi negociado por muito tempo, inclusive com reuniões de emergência em Nova York. E finalmente no dia 15 de junho só se tinha acordado um terço do texto. Passamos um ano para negociar um terço e dois dias para negociar o resto”.
Pedro Telles, do Vitae Civilis: “A juventude que está aqui continuará unida e agindo. Não vamos desistir. Não vamos perder a esperança. Vamos continuar juntos e esperamos que esses líderes e negociadores se juntem a nós por mudanças concretas”.
Wael Hmaidan, diretor da Climate Action Network: “Sabíamos antes de chegar qual era o estado da vontade política. Não tínhamos esperança para muito mais. Mas não esperávamos que tentassem vender lixo como sucesso. Vontade política nova é criada na rua. Vontade política nova é criada quando falamos com o coração. Eu venho da região árabe e uma coisa que a Primavera Árabe nos ensinou é que persistência faz a diferença. No Egito, o movimento tentou durante anos, quase desistiu, mas a persistência ganhou a revolução quando o ponto de ruptura foi atingido. Então vamos para casa usar nossa raiva, falar com o coração e atingir o povo”.
A Rio+20 que não queremos
O futuro que queremos não passa pelo documento que carrega este nome, resultante do processo de negociação da Rio+20.
O futuro que queremos tem compromisso e ação - e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a sociedade e seus anseios - e não apenas as cômodas posições de governos.
Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial que deverá ser o legado desta conferência. O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos.
A Rio+20 passará para a história como uma conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.
Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam os negociadores - e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem subscreve esse documento
Signatários:
Ailton Krenak
Ashok Khosla
Bill McKibben
Brittany Trifold
Camilla Toulmin
Carlos Alberto Ricardo
Carlos Eduardo Young
Christina Robertson
Davi Kopenawa Yanomami
Ester Agbarakwe
Fabian Cousteau
Fabio Feldmann
Hamouda Soubhi
Ignacy Sachs
Jim Leape
João Paulo Capobianco
José Eli da Veiga
José Goldemberg
Juan Carlos Jintiach
Kelly Rigg
Kumi Naidoo
Luís Flores
Manuel Rodrigues Becerra
Marcelo Furtado
Marina Silva
Mario Mantovani
Marvin Nala
Mathis Wackernagel
Megaron Txucarramãe
Michel Lambert
Mohamed El-Ashry
Nay Htun
Nitin Desai
Oded Grajew
Pedro Ivo Souza Batista
Pedro Telles
Peter May
Pierre Calame
Raoni Metuktire
Ricardo Abramovay
Ricardo Young
Roberto Klabin
Rubens Born
Sara Svensson
Sharan Burrow
Sergio Mindlin
Severn Suzuki
Simon Ticehurst
Thomas Lovejoy
Vandana Shiva
Wael Hmaidan
William Rees
Yolanda Kakabadse

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