“Eu queria agradecer, em primeiro lugar. Eu sempre agradeço e digo que sou militante há muito tempo na minha vida. Nem sei se fiz outra coisa na minha vida que não fosse isso.
Eu nunca tive medo de cumprir tarefas e pra mim as coisas tem começo, meio e fim; e a nossa luta não terminou hoje aqui, acho que hoje nós começamos outra luta.
A vida de quem mora na periferia, especialmente na minha situação que sou uma mulher negra que nunca morou em outro lugar que não a periferia, tem luta todo dia. A vida da gente é luta!
E eu sempre aprendi muito mais quando uma eleição não dá os votos que a gente espera, do que quando a gente tem os votos que esperava. Então é por isso que eu não fico triste quando a gente perde, porque tudo na vida é uma lição e na política mais ainda.
Nós tivemos grandes vitórias e eu acho que nossos adversários entenderam o que nós estávamos fazendo e nossos companheiros é que não entenderam a força que nós tínhamos. Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Nós fizemos um projeto e um plano estratégico, que funcionou, tanto que conseguimos juntar todas as forças e nossos adversários não tiverem nem pena e nem dó, nos massacraram.
Mas eu tenho orgulho da minha família, que foi incansável, tenho orgulho de ter sido uma candidata – que não tinha nem comitê – e tenho orgulho da Articulação de Esquerda, de ter visto várias pessoas juntas, acreditando num projeto e os votos que fizemos são o resultado do nosso suor e nosso poder de convencimento. Por que nós não tivemos nenhuma máquina a nosso favor e eu fico pensando e imagino o poder que esse “povo” teve em constranger o nosso povo, de colocá-lo num gueto.
E é por isso que eu estou aqui descontraída com cada um aqui hoje e poderia contar uma história emocionante com cada um e cada uma hoje, de quem levantou muito cedo e dormiu muito tarde e de quem deu o que não tinha, de quem acreditou!
Em alguns momentos mil e poucos votos podem ser nada e em outros momentos pode ser muito e nesse momento é muito. São 2.300 votos!
Nós fizemos muito, trouxemos gente nova, gente jovem, gente de outros movimentos, Estamos criando um novo ciclo, uma nova era, pobre “deles” que pensaram que nós íamos nos sentir derrotados hoje. Nós não vamos nos sentir assim, especialmente, porque eu sou descendente de um povo que não tem tempo pra chorar, eu quero ter um tempo pra chorar, pra reclamar, mas “eles” não vão dar essa chance e o azar é “deles”, eu queria poder me lamentar, mas não vai dar tempo, porque amanhã … amanhã nós vamos começar tudo de novo e de novo e faremos quantas vezes for necessário… Incansavelmente!
Na minha história de vida e a tua de repente e, de vários e vários companheiros e companheiras, uma eleição nunca nos derrubou, isso foi só um tapa, eu sou descendente de uma gente que resistiu muito mais do que perder uma eleição!
Eu fico pensando nos meus antepassados que foram trazidos da África e que se atiravam dentro dos moinhos de açúcar para os outros companheiros fugirem e construírem seus quilombos. Então isso pra mim é o começo de uma nova etapa!
E hoje a noite está escura, hoje está chovendo, e nós estamos comemorando a conquista de vários jovens que chegaram aqui e acreditaram em nós, nós vamos ganhar uma nova era. Quando ninguém acreditava que nós éramos capazes de fazer isso, a gente fez e faremos de novo e depois quando nós não estivermos mais aqui, outros lembrarão e outros farão outras vezes.
Como dizia Che Guevara “eles podem matar algumas flores, mas matar a primavera jamais!”
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"Nos meus 47 anos de vida não faltou coragem para cumprir com determinação a ambição de viver numa Porto alegre melhor."
"Nos meus 47 anos de vida não faltou coragem para cumprir com determinação a ambição de viver numa Porto alegre melhor."
Sônia Saraí Soares (1965-2013)
Saraí faleceu em 1º/04/2013 após parada cardíaca.
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