terça-feira, 8 de abril de 2014

CARTA ABERTA DOS MOVIMENTOS POPULARES NO DIA NACIONAL DE LUTA PELO DIREITO À MORADIA



As cidades brasileiras permanecem sendo espaços marcados por fortes desigualdades sociais onde a classe popular é são obrigada a conviver com a falta de habitação, a precariedade das condições de saneamento ambiental e a ausência de mobilidade urbana e a ausência de equipamentos e serviços públicos, que ainda marcam o cotidiano de milhões de brasileiros.

Apesar de existirem investimentos públicos, nos últimos anos, em habitação, saneamento e mobilidade, esse quadro não tem se modificado. Assiste-se a propagação do modelo empreendedorista neoliberal de gestão das cidades, que torna a cidade uma mercadoria e nega a cidade como um direito. Esse modelo concentra renda e poder nas mãos das elites, promove processos de urbanização acelerada que contribuem para a depredação do meio ambiente, privatiza o espaço público, causa o empobrecimento, a exclusão e a segregação social e espacial.

Como andam as políticas de desenvolvimento urbano em nosso país?

O governo federal não tem mostrado um efetivo compromisso com os espaços de participação da sociedade, através do fortalecimento do Conselho das Cidades e da democratização das decisões da política urbana.

O governo federal promove a construção de milhares de moradias, mas subordina a produção das habitações populares ao mercado imobiliário, que expulsa os pobres para as periferias. Como resultado, constroem-se moradias sem cidades.

O Programa MCMV Entidades 2 foi o último a ser iniciado, no último trimestre de 2011 e é o primeiro a sofrer com a restrição de recursos e o fim do limite para a modalidade Compra Antecipada, que tem sido uma alternativa para os movimentos enfrentarem a dificuldades em viabilizar terrenos para os novos empreendimentos. Hoje temos mais de 90 mil unidades em análise na Caixa e apenas 20 mil unidades de meta no ano, comprometendo a credibilidade do governo, do programa e dos movimentos.

O governo federal tem sido conivente com o despejo de milhares de famílias e com a violação do direito à moradia, como decorrência da implantação de grandes projetos urbanos, em especial o projeto da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas.

Temos assistido gradativamente a privatização do serviços de saneamento ambiental, subordinando esses serviços à logica do mercado e do lucro, segundo a qual o acesso aos bens naturais do planeta, como a água e ao saneamento ambiental é determinado pela capacidade de pagamento do povo, gerando desigualdades sociais.

Os programas de mobilidade urbana que temos no Brasil não dão conta e estão são subordinados à lógica de privatização das cidades, onde a prioridade é dada ao automóvel, acima do direito ao transporte público de qualidade, garantindo integração entre os diferentes modais, atendimento prioritário das áreas populares e integração dos aglomerados urbanos e metropolitanos.

Acompanhamos com muita indignação as discussões do Projeto de Lei Antiterror, ainda mais em um ano que rememoramos 50 anos de um golpe militar que retirou liberdades. Repudiamos o Manual “Garantia da Lei e Ordem”, editado por meio da Portaria Normativa 3.461/MD de 19 de dezembro de 2013 e da Portaria normativa n. 188/MD de 31 de Janeiro de 2014; e qualquer legislação que criminalize os movimentos sociais e ameaça os direitos à livre organização e manifestação.

Nos últimos meses, o Governo tem represado recursos e sistematicamente reduzido a meta do MCMV,  especialmente naqueles programas destinamos às entidades sociais sem fins lucrativos.

Nesse contexto, a União Nacional por Moradia Popular a Central dos Movimentos Populares, a Confederação Nacional das Associações de Moradores, o Movimento Nacional de Luta por Moradia e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto exigem:

- Mais apoio e recursos para a construção de habitação de interesse social, em parceria com as organizações do movimento popular e as cooperativas de autogestão, com:
- Ampliação da meta MCMV Entidades em 2014, de 20 mil para 170 mil unidades;

- Ampliação da modalidade Compra Antecipada;

- Mudanças nas regras do programa – redefinição de limite de renda para 3 salários mínimos, financiamento para equipamentos sociais e comunitários, substituição do aquecedor solar nas regiões mais quentes do país, substituindo-o por outro item de sustentabilidade.

- Fortalecimento e disseminação da autogestão no programa, como forma de desmercantilizar a produção habitacional;

- Desburocratização da contratação e das liberações das obras em andamento, sem atrasos e retenções dos valores das medições;

- Publicação imediata da nova Portaria de Habilitação do programa;

- Revisão da portaria 595/2013, respeitando a organização popular e autônoma.

- Participação na elaboração da 3ª. Etapa do Programa Minha Casa Minha Vida;

- Definição de percentual de moradias para as famílias chefiadas por mulheres vítimas de violência;

- Aprovação da PEC da Moradia, destinando recursos permanente para habitação;

- A destinação dos imóveis vazios da União, em espacial àqueles situados nas áreas centrais, para habitação de interesse social;

- O fim das remoções e a imediata suspensão dos financiamentos federais para as intervenções urbanas que promovem remoções nos grandes projetos urbanos, como na Copa Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016,

- A implementação de um programa de regularização fundiária das áreas de assentamentos populares.

- Fim da criminalização da ação dos movimentos sociais, com a não aprovação da Lei Antiterror e a aprovação de um Marco Legal para a ação das organizações sociais.

- O fim das privatizações no setor de saneamento ambiental e a implementação do plano nacional de universalização do acesso à água e ao serviços de saneamento ambiental.

- Investimentos em transportes coletivos públicos e de qualidade e meios de transporte não-poluentes, com um novo sistema de financiamento da mobilidade urbana integrado, na perspectiva de um transporte público de qualidade.

- Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano, concentrando os recursos de investimento das políticas setoriais;

- Por um Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, fundado na participação e controle social, visando romper com a fragmentação das políticas setoriais e com a desarticulação entre os diferentes âmbitos de governo.



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