quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Moradores da ocupação Bela Vista denunciam ação violenta de homens fardados

Fonte: Sul21
Débora Fogliatto

Paredes da Associação foram pichadas pelos homens que atacaram a ocupação | Foto: Filipe Castilhos/Sul21


Moradores da ocupação Bela Vista, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, afirmam ter sido agredidos por homens supostamente da Brigada Militar na madrugada desta sexta-feira (20). Segundo as denúncias, cerca de 20 a 25 pessoas fardadas entraram no terreno, avançando contra cinco jovens que se reuniam na sede da Associação de Moradores, por volta das 22h. Três dos jovens teriam sido agredidos ao longo de aproximadamente quatro horas.
“A gente não sabe o motivo disso, mas parece ser para o povo não ficar (na área ocupada), não tem outra explicação. Apavoraram o povo, deixaram uma mensagem que é uma cruz e um escrito dizendo ‘não voltem'”, afirmou um dos líderes da comunidade. Assustados, os moradores vítimas do caso preferiram não expor seus nomes. Este líder teve sua caminhonete depredada, com pneus furados, bancos rasgados e portas arranhadas.

Os cinco jovens estavam jogando baralho e bebendo dentro da sede da Associação de Moradores quando ouviram um tiro. Com o susto, saíram correndo e avistaram cinco carros parados à direita de onde estavam, próximo a um matagal. “Eles não perguntavam nada, só disseram que queriam armas. E a gente não tinha arma nenhuma”, contou uma das vítimas, que teve a clavícula deslocada pela violência sofrida.
Três dos jovens correram para debaixo de uma árvore, onde foram encurralados e agredidos com chutes e socos. Um deles afirma ter sido asfixiado por alguns segundos com um saco plástico. Os homens, armados e usando colete à prova de balas por cima do que os moradores relatam ser fardas da Brigada Militar, prenderam o grupo em uma cabana, que infestaram de spray de pimenta.

Enquanto as vítimas estavam presas na cabana, os homens vandalizaram a caminhonete e picharam as paredes internas da Associação de Moradores, com os dizeres “Não volte” e uma cruz preta. O rádio e a televisão da Associação também foram destruídos. De acordo com as vítimas, os agressores ameaçaram retornar caso eles denunciassem o ocorrido.
“Eles eram da polícia. Estavam muito armados, colocaram o colete em cima da farda para não mostrar o nome. Pegaram meu filho de 14 anos, que estava dentro de casa”, relatou uma das moradoras, cujo filho está entre os agredidos. Ela também contou que os agressores disseram que “iam matar todo mundo” caso houvesse denúncias.

Os moradores dizem desconhecer os motivos para o ataque, mas acreditam que seja obra de uma milícia formada por policiais que atuam fora da corporação. “Eles diziam que não estavam recebendo hora extra, que estavam fora do seu horário de trabalho”, relatou uma das vítimas. Uma mulher grávida, que vive em uma casa próxima ao local do ataque, passou mal e teve que ser encaminhada a um hospital. Ela ainda narra que seu cavalo foi maltratado pelos homens.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Ocupação Bela Vista existe desde agosto de 2014 | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21


Esta noite, será realizada uma vigília na Bela Vista, para coibir possíveis ataques. Os moradores prestaram depoimento na 22ª Delegacia de Polícia, onde foram instruídos que deveriam realizar exame de corpo delito e procurar a Corregedoria.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores também já está a par do assunto e deve se reunir com os moradores na próxima semana. A Brigada Militar afirmou não ter informações sobre possíveis responsáveis pelo caso, mas está investigando internamente. O Batalhão de Operações Especiais (BOE) também informou que o caso está sendo investigado, mas que os uniformes utilizados pelos seus policiais são diferentes dos outros e que as únicas guarnições em operação externa retornaram a seus postos por volta das 23h. A assessoria de imprensa da BM afirmou que a Ouvidoria está buscando possíveis responsáveis.

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