quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Grêmio Gaúcho, nova rasteira

Fonte: Meu Bairro 
 
Jacqueline Custódio
 

O Grêmio Gaúcho foi uma sociedade fundada em 22 de maio de 1898, criada para congregar seus associados para fins recreativos, culturais, esportivos e, especialmente, cultivar as tradições gaúchas, inspiradas na personalidade inconfundível do Gal. Bento Gonçalves. É considerado o berço do tradicionalismo gaúcho, tendo uma história de 116 anos. O prédio ainda se encontra na Av. Carlos Barbosa, nº 1525, em Porto Alegre/RS.

No final de 2014, tivemos a grata notícia de que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre havia aprovado o projeto de lei, de autoria do Vereador Bernardino Vendruscolo, que tombava a edificação construída para ser sede do Grêmio Gaúcho. O próximo passo, então, seria avaliar de que forma o prédio deveria ser utilizado, pois o uso preserva o imóvel e mantém viva a memória que lá existe.



Não se conseguiu nem fazer a primeira reunião para que a questão fosse debatida e veio a notícia: o prefeito havia vetado na íntegra o projeto de lei. Quais foram os motivos? Primeiro, que um ato de tombamento é de iniciativa do Poder Executivo e não, do Legislativo. Segundo, que deve ser aprovado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural (COMPAHC). Terceiro, que não foi feito o trâmite através da equipe técnica da prefeitura. Por último, e, na minha opinião, mais intrigante, a manifestação da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) desaconselhando e inviabilizando a proteção pretendida, tendo em vista a demasiada deterioração do bem.



As questões burocráticas poderiam ser contornadas, bastando, para isso, que o prefeito sancionasse a lei, resolvendo os problemas apontados no veto. Mas o posicionamento da EPAHC é que nos faz pensar sobre quais são os parâmetros utilizados nas demandas de preservação dos bens de Porto Alegre. Se é correta a constatação de que o prédio está bastante deteriorado, este não é (ou pelo menos, não deveria ser) um argumento para que seja inviabilizada a sua proteção.


Av. Tronco com Av. Carlos Barbosa

Quando um bem é avaliado, são usados critérios técnicos e que abrangem os aspectos históricos, artísticos, arquitetônicos, sociológicos, paisagísticos e antropológicos. Nesta lista, não se inclui o estado de conservação do bem. Se assim fosse, possivelmente ruínas jamais seriam preservadas. Diferente de antanho, quando o caráter de excepcionalidade era o passaporte para a preservação, hoje, temos como referência o valor afetivo, o significado para aquela comunidade, inclusive seu conteúdo paisagístico.

Não custa lembrar que o referido prédio encontra-se posicionado no traçado que modifica a Av. Tronco e a Av. Carlos Barbosa, nos levando a pensar se não haveria um interesse da administração pública de liberar o caminho para a implantação da via.
Aliás, não seria a primeira vez que isso aconteceria em Porto Alegre. Um símbolo da cidade teria sido colocado abaixo, para dar lugar ao alargamento de uma rua central: a Usina do Gasômetro deve sua preservação à mobilização social. Um ato que deve servir de modelo e lição para que enfrentemos todos os atentados ao patrimônio, que assistimos diuturnamente, não só aqui, mas em todo nosso estado.

Para começar, teremos um encontro do movimento Chega de Demolir Porto Alegre, no dia 21 de fevereiro, às 17h, Rua Laurindo, 322, Bairro Santana (Barraco Estúdio).

Maiores informações: https://www.facebook.com/events/1588948251319417/

Sobre @ colunista


Jacqueline Custodio formada em medicina e em artes plásticas pela UFRGS, mas agora, advogada, apostando no "escritório do bairro" Gonsales & Custódio. Exercitando escrita, cidadania e boas amizades, tem um blog chamado "Chega de demolir Porto Alegre", que denuncia os atentados contra o patrimônio afetivo da cidade e a devastação das construtoras na memória urbana. Em luta pela implantação Centro Cultural Zona Sul, mantém uma FanPage com essa ideia, além de participar em movimentos que tenham como objetivo a preservação do meio ambiente e patrimônio cultural de nossa cidade.

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