R: A abundância pública - representada por grandes parques urbanos, museus gratuitos, bibliotecas e inúmeras possibilidades de interação humana - é uma rota alternativa para uma vida rica baseada em uma sociabilidade que não agride a Terra.
No entanto, prosperidade pública deve ser equilibrada em todas as dimensões socioespaciais. Riqueza cultural e espaço verde geralmente se acumulam em centros inacessíveis para que sejam desfrutados basicamente por turistas e pela alta classe. Em vez disso, a prioridade deve ser construir complexos culturais, educacionais e esportivos que funcionem como centros cívicos para bairros e distritos suburbanos, mesmo que para isso seja preciso suspender os investimentos no centro da cidade. (É evidente que, paralelamente, as maravilhas dos centros devem se tornar acessíveis para todos, por meio de passagens mais baratas e entradas gratuitas).
Maior concentração de atividades essenciais - trabalho, educação, lazer -, por sua vez, possibilita maior densidade residencial em centros distritais e a preservação de espaço aberto nas zonas periféricas. De fato, a sobrevivência ecológica da maioria das cidades depende fundamentalmente da recuperação de bacias e florestas viáveis.
Na dialética californiana, precisamos ser utópicos e holísticos ao mesmo tempo. Atualmente, a crise interna da política ambiental é exatamente a falta de conceitos ousados, que abordem os desafios da pobreza, energia, biodiversidade e mudança climática com uma visão integrada do progresso humano.
Os mais abastados já podem escolher entre grande variedade de projetos ecologicamente corretos, mas qual é o objetivo final: permitir que celebridades se vangloriem de seu estilo de vida com zero emissão de carbono ou levar energia solar, saneamento, clínicas pediátricas, transporte coletivo e, acima de tudo, empregos verdes para as áreas urbanas carentes?
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Mike Davis, Professor da Universidade da Califórnia, é autor de inúmeros livros e artigos. Alguns disponíveis em português: Planeta Favela, ed. boitempo, 2006; Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles, ed. boitempo, 2009; Ecologia do Medo, ed. Record, 2001; Holocaustos coloniais, ed. record, 2002.
O texto acima é um excerto da entrevista publicada na edição nº 181 (abril de 2012) da revista Caros Amigos. Ainda está nas bancas.
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