O grupo Cais Mauá de Todos realizou na tarde desta sexta-feira (17) mais uma atividade a fim de estimular o debate sobre alternativas para revitalizar o local. O objetivo é preservar a paisagem cultural e também mobilizar a sociedade para barrar o projeto que venceu a licitação, que prevê a construção de um shopping, hotéis e três torres. A obra, no entanto, ainda não saiu do papel, pois depende da aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima), que estão em análise pela prefeitura.
Nesta sexta, no auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a arquiteta e urbanista Helena Cavalheiro apresentou o projeto de graduação “Manifesto Mauá – uma costura urbana no centro de Porto Alegre”, modelo considerado ideal para a área pelo grupo Cais Mauá de Todos. A alternativa foi elaborada pela arquiteta e apresentada ao final do curso, em 2008. A proposta de Helena privilegia os espaços públicos e a manutenção das características históricas e culturais do Cais do Porto. “Ainda que tardiamente é importante fazer essa discussão. Está se fazendo o projeto mais fácil”, destacou Helena, que hoje atua em São Paulo e na época em que apresentou o trabalho chegou a procurar entidades ligadas ao tema para levá-lo em frente, mas diz não ter encontrado respaldo.
O modelo apresentado pela arquiteta prevê a transferência do muro da Avenida Mauá para entre os armazéns e o Rio Guaíba. Seria uma estrutura móvel erguida do chão em caso de necessidade para não atrapalhar a bela vista de um dos cartões postais da capital gaúcha. Já a Avenida Mauá daria lugar a uma área de convivência que se estenderia até a Usina do Gasômetro e ainda promoveria a integração com os principais pontos turísticos do Centro Histórico, como o Mercado Público, Igreja das Dores, Praça da Alfândega e Casa de Cultura Mário Quintana. Para a passagem dos carros na Mauá, seria construído um túnel e mais duas vias secundárias com o fim de absorver o fluxo de veículos nos arredores. A revitalização proposta pela arquiteta também prevê a desativação do Trensurb no trecho entre a Estação Rodoviária e o Mercado Público sendo substituído por um veículo mais leve – BRT- que se estenderia até a Usina do Gasômetro.
A arquiteta propõe, ainda, que alguns dos armazéns possam ser usados para eventos em geral, biblioteca, centro de gastronomia e terminal rodoviário, além de restaurantes. “Essa é uma ferramenta de ideias”, afirmou Helena, sobre o seu projeto servir de ponto de partida para esse debate. Depois da apresentação, foi veiculado um vídeo com depoimentos de integrantes do grupo Cais Mauá, ressaltando a importância de preservar a área, um dos patrimônios históricos da Capital. Em seguida, estudantes de Arquitetura e profissionais ligados ao tema debateram o assunto e estimularam a mobilização da sociedade, uma vez que o projeto definido não saiu do papel e só a pressão da população pode levantar a discussão sobre um outro modelo para o Cais.
Coletiva pública
No sábado à noite (18), o grupo Cais Mauá de Todos faz uma atividade semelhante a desta sexta-feira, porém ao ar livre. Às 19h, na Avenida Sepúlveda, ocorrerá um ato público com nova apresentação do “Manifesto Mauá – uma costura urbana no centro de Porto Alegre” da arquiteta Helena Cavalheiro. “O objetivo é colocar esse assunto na pauta das pessoas”, afirmou a jornalista Kátia Suman, uma das integrantes do grupo. Ela disse que é preciso mostrar à sociedade que o projeto que venceu a licitação não é a única opção para o espaço, que é uma “área nobre” da Capital.
Na atividade deste sábado, o Grupo Cais Mauá de Todos aproveitará para coletar assinaturas para o manifesto que será encaminhado ao Ministério Público e à Defensoria Pública, entre outros órgãos públicos, na tentativa de forçar a prefeitura a abrir um diálogo com a sociedade sobre o tema. Conforme Kátia, a meta é chegar a 10 mil – hoje, há 4 mil assinaturas. Depois da coletiva, haverá shows de Nei Lisboa, Ian Ramil, Sopro Cósmico, Novo Circo, Cia De Dança, Bibiana Petek e Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense.
Na Copa do Mundo, espaço foi aberto
Em junho do ano passado, foi aberto o espaço do Pórtico Central e dos armazéns A e B durante a realização da Copa, mas depois foi novamente fechado, aguardando o começo das obras, que serão executadas pelo Consórcio Cais Mauá Brasil, vencedor da licitação. Por enquanto, só foram feitas demolições de construções erguidas entre os armazéns. O custo total do projeto, incluindo o shopping e as três torres, chega a R$ 700 milhões, dois terços desse valor seriam só com obras de mobilidade urbana. Já a revitalização dos 11 armazéns está estimada em R$ 150 milhões.
Detalhes do projeto de revitalização contratado
– A Cais Mauá do Brasil S.A é o consórcio responsável pela gestão do projeto de revitalização e operação do Cais. A área do Porto foi arrendada pela empresa por um período de 25 anos, podendo ser renovável pelo mesmo período
– O consórcio Cais Mauá Brasil S.A é constituído pela GSS Holding (espanhola) com 51% das ações, pela NSG Capital com 39% e o Grupo Bettin com 10%
– A revitalização prevê a restauração dos 11 armazéns, instalações de restaurantes e áreas de lazer, construção de um shopping na Usina do Gasômetro, três torres, dois hotéis e um centro de eventos
Confira o vídeo do grupo Cais Mauá de Todos sobre o tema:
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