quinta-feira, 25 de junho de 2015

Forte aparato policial marca despejo de famílias em Sapiranga

Fonte: Sul21
Por Marco Weissheimer
 
25/jun/2015, 16h02min


Centenas de policiais estiveram presentes no despejo das famílias  na Ocupação Jacobina, em Sapiranga | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Centenas de policiais estiveram presentes no despejo das famílias na Ocupação Jacobina, em Sapiranga | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Um efetivo do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, com 240 homens, a pé e a cavalo, cães e pessoal do serviço de inteligência, acompanhou o oficial de justiça que executou a ação de reintegração de posse, na manhã desta quinta-feira (25), da área de 26 hectares ocupada desde o início de maio por centenas de famílias sem moradia, em Sapiranga. Por volta das 6h, os moradores da Ocupação Jacobina já se preparavam para a ação de despejo. Muitas famílias já tinham retirado seus pertences no dia anterior. Esse trabalho prosseguiu desde o início da manhã. A decisão do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) foi pela saída pacífica da área, sem entrar em confronto com as tropas da Brigada Militar. E foi assim que se desenrolou a ação de despejo na Ocupação Jacobina.

O dia ainda não havia amanhecido quando o deputado estadual Tarcisio Zimmermann (PT) chegou à área para acompanhar a ação. Junto com sindicalistas e outros moradores da região, apoiadores das famílias da ocupação, formou-se um grupo para acompanhar a ação policial e garantir que ela ocorresse sem conflitos. Por volta das 8h, oficiais e soldados da Brigada Militar acompanharam o oficial de justiça na execução da ação e deram um prazo até às 10 horas para que os moradores deixassem a área. Parte das famílias que deixaram a ocupação dirigiu-se para uma área próxima do local, que estaria em cima de antigos trilhos de uma ferrovia federal. O oficial de justiça, porém, restringiu a ocupação desse espaço, permitindo que as famílias ficassem em apenas uma estreita margem da área.

Moradores tiveram a manhã para desmontar seus casebres e deixar o local | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Moradores tiveram a manhã para desmontar seus casebres e deixar o local | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Por volta das 9h, integrantes do pelotão de choque da Brigada começou a formar um cordão de isolamento numa área localizada em frente à ocupação para evitar que as famílias seguissem levando seus pertences para essa nova área. Enquanto isso, caminhões de mudança, automóveis e carroças puxadas a cavalo trabalhavam freneticamente para retirar os bens dos moradores da ocupação dentro do prazo estabelecido pelos policiais. Crianças cuidavam de proteger seus cachorros, assustados com toda a confusão.

| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Oficial de justiça foi acompanhado pela BM| Foto: Guilherme Santos/Sul21

O clima entre os moradores era de grande revolta contra a prefeita de Sapiranga, Corinha Molling (PP). A área pertence à empresa VLM2 Consultoria, Participações e Empreendimentos LTDA, de propriedade de Vinicius Molling, filho da prefeita e do deputado federal Renato Molling (PP), que está sendo investigado na Operação Lava Jato. Além do cumprimento da função social da área, as famílias cobram da atual prefeita a elaboração de projetos para a construção de 3 mil novas moradias no município, conforme teria prometido durante a campanha eleitoral.

Segundo a coordenação do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores por Direitos (MTD), várias tentativas de interlocução com a Prefeitura de Sapiranga foram feitas desde o início da ocupação, sem nenhum retorno efetivo por parte do Executivo. No dia 8 de junho, o MTD solicitou ao Ministério Público em Sapiranga que investigue a origem do dinheiro utilizado para a compra da área de terra pela empresa ligada à família Molling.

No final da manhã, representantes da prefeitura propuseram à coordenação da ocupação para que as famílias fossem levadas ao ginásio Nenezão, onde fariam um cadastro e receberiam alimentação, uma promessa de ajuda para transporte das crianças para as escolas e de encaminhamento de um aluguel social. Juliane Camargo de Almeida, da coordenação do MTD, apresentou a proposta às famílias numa assembleia improvisada à beira dos barracos desmontados. Mas a imensa maioria dos moradores rejeitou a proposta de ir para o ginásio e decidiu prosseguir o acampamento em outra área.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Manifesto condena onda de despejos

O Fórum Estadual de Reforma Urbana do Rio Grande do Sul divulgou um manifesto contra a onda de despejos que já atingiram centenas de famílias em Porto Alegre e Região Metropolitana. O manifesto critica a proliferação de despejos e defende que o direito à moradia, previsto na Constituição, seja respeitado e cumprido pelos governantes. O texto afirma:

Temos acompanhado no último período diversas ações de despejo em Porto Alegre e Região Metropolitana. Estas famílias buscam garantir seu direito de morar até em áreas precárias, muitas vezes, onde não possuem os serviços públicos e equipamentos urbanos necessários.

| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Famílias partiram para área pequena que pertenceria ao governo federal | Foto:Guilherme Santos/Sul21

Ao contrário do que tem sido veiculado na imprensa, sabemos que a grande maioria destas famílias não têm outras alternativas de moradia, sendo majoritariamente trabalhadores, vítimas da exclusão social ocasionada pela pressão da especulação imobiliária e da incapacidade do poder público de oferecer alternativas de moradia digna, ao mesmo tempo em que é ineficaz na sua responsabilidade de regular o mercado de terra, conforme definido na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01).

Entendemos ser fundamental que sejam construídas alternativas aos despejos e remoções forçadas que só favorecem a especulação e desconsideram o direito humano à moradia.

Somos signatários da Campanha Internacional “Despejo Zero”, pelo Direito à Cidade e contra remoções forçadas e reafirmamos os direitos sociais e deveres consolidados na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade. É necessário, também, que o poder judiciário reconheça a função social da propriedade e não somente a propriedade.

Medidas efetivas devem ser tomadas tais como: reativação do Grupo de Trabalho de Mediação de Conflitos do Governo do Estado e Conselho das Cidades; o fortalecimento do diálogo com as comunidades e mediação de conflitos no judiciário antes de qualquer remoção.

As entidades do Fórum Estadual de Reforma Urbana – FERU | RS reafirmam o apoio às famílias que necessitam de moradia e seguem mobilizadas pela Reforma Urbana e Despejo Zero!

Veja mais fotos da reintegração de posse:

Por Guilherme Santos/Sul21
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